A Voz Para Elas

Jacilene Arruda

Esta coluna foi pensada com o intuito de fornecer voz a todas as mulheres. Mulheres plurais que foram ou tiveram sua voz silenciada. E que agora em diante se permitem tomar os seus lugares de fala e empoderamento, desvinculando de raízes familiares que amalgamava suas almas e tornavam-as presas a um sistema machista patriarcal.

 

Entrevista com a Noi Soul, escritora baiana

 

Jacilene:
Boa noite, Noi, Tudo bem?

Primeiro gostaria de saber uma curiosidade. De onde veio a inspiração para o seu codinome?

Noi: Tudo joia, Jacilene?

Meu nome é algo que causa certa surpresa e até estranheza para algumas pessoas. Por incrível que pareça, meu nome artístico é meu apelido. Meu nome oficial, por assim dizer, é Noiane Souza. Eu sempre fui chamada pelo apelido Noi. E, mais tarde, já em contato com a arte e também temas relacionados à minha vocação profissional, tive que pensar em um nome artístico para ser “batizada” na Cia Kagemi de dança e teatro em minha cidade, Vitória da Conquista. E não foi muito difícil chegar à conclusão de que eu gostava mesmo do meu apelido e já era diferente o suficiente. Noi. O Soul veio a partir do contato que eu tive na mesma época com temas relacionados à espiritualidade. Então, transformei o meu Souza em Soul (alma, em inglês). E nasceu Noi Soul. Hoje assino tudo em minúsculo, assim: noi soul.

Jacilene:
O que significa ser mulher para você? Quais os maiores desafios que você enfrenta ou enfrentou por ser mulher?

Noi: Ser mulher possui vários significados, tanto no contexto social, cultural, político ou individual. Quando nascemos e somos apresentadas ao mundo como mulheres (meninas), existe uma série de restrições que nos impõem. Por exemplo, eu sou a nona filha de uma família com 10 (5 homens e 5 mulheres) e, por isso, já nasci sendo tia. Explico, quando eu nasci, minhas irmãs mais velhas já eram casadas e estavam tendo seus filhos. Cresci com meus sobrinhos como se fosse uma prima-irmã deles, o que eu achava incrível. Mas desde criação eu notava que precisava dar conta de afazeres domésticos que o meu sobrinho-menino não precisava dar conta. Ele podia ir brincar na rua ou apenas ficar assistindo. Ninguém lhe dizia que ele precisava ajudar na casa antes de ser liberado para brincar. Isso é muito significativo pra mim. E, ao crescer e acessar outros espaços, entendi, que a questão era bem maior do que o que acontecia lá em casa. Eu nunca ganhei um carrinho de presente, nem brinquedos que me incentivassem a buscar profissões diferentes. Apenas bonecas e ursinhos e coisinhas de casinha. Eu amava também. Mas queria desbravar outros mundos e minhas próprias potencialidades, então busquei me destacar na escola para que as pessoas me vissem com outros potenciais no mundo. Creio que ainda continuo tendo que provar muita coisa, principalmente porque estou num meio onde muitas das referências dos intelectuais são homens e onde os meus pares ainda têm dificuldade para me ouvir simplesmente pelo fato de eu ser mulher, sendo que o mesmo discurso na voz de um homem seria facilmente escutado e replicado. Ainda bem que temos as redes sociais e podemos utilizá-las a nosso favor. Hoje podemos fazer parte de coletivos de apoio mútuo em que mulheres podem fortalecer outras. Isso é muito importante.

Jacilene:
Quando iniciou os seus projetos artísticos? Como você chegou a esse meio de transformação?

Noi: Iniciei no mundo artístico profissionalmente em 2018 a partir da Cia Kagemi de dança e teatro. Primeiro, no palco com dança butô que despertou muito os meus sentidos. Foi um processo profundo de transformação interna e externa. Agradeço ao meu querido amigo e diretor Wagner Silveira, pelas portas abertas e pela oportunidade de ouvir dele algo que me acompanha até hoje: “A arte te escolheu.”. E é assim que sinto e aceito hoje. Entreguei-me completamente à arte e, com a pandemia, tive que me afastar dos encontros presenciais e dos palcos, e me voltei à escrita, meu refúgio. Neste processo, descubro-me escritora.

Jacilene:
Quais os livros que você têm publicados? Você também participa de projetos coletivos? Se sim, quais?


Esta aqui é minha primeira Antologia coletiva. Quero dizer, a primeira que organizo com meu selo, o Celéstyan Pulsão Poética.

Noi: Tenho 5 livros físicos publicados, 1 em parceria, é um livro-dueto com Poeta Falso chamado Hematoma Social, 2023. Os outros três são livros solo: Ventre de Mãe, 2021, Semente de Pai, 2022, A última gota, 2023 e o que estou lançando agora, descompassos: o universo que sou in(VERSOS), 2024.
Participo do Coletivo de Escritores Conquistenses e Elas escrevem, todos de Vitória da Conquista, Bahia.

Faço o programa Poesia Falada no Tertúlias com VC, pelo Instagram, onde leio e recito poemas de diversos poetas atuais. Criei o canal Celéstyan Pulsão Poética com este mesmo intuito, mas lá eu transformo os poemas em vídeo-arte.

Sou parceira de Katiana Rigaud na Raiz Livraria, livraria virtual que tem o mesmo objetivo de valorização dos nossos autores nacionais atuais.

Jacilene:
Quais eventos você poderia destacar na sua cidade que estão voltados para a arte, cultura e também empoderamento feminino?

 

Noi: Sim. Tenho tido a felicidade de participar de alguns projetos muito bacanas em minha cidade. Tem o Encontro de Escritores conquistenses que ocorre mensalmente e a troca tem sido imprescindível para meu próprio processo criativo. Estou mediando o Sarau do Camillo com Renas Barretto, também mensal, o que tem ampliado sobremaneira meu olhar sobre arte e cultura local. E, ainda com Renas, também participo do grupo Slam Caatingueiro e estou muito feliz pois levaremos nossa primeira apresentação para uma Feira Literária neste final de semana, a Fligê, que ocorre na Chapada Diamantina.

 

Jacilene:
Como conseguimos contactar você para compra de livros ou convidar para projetos?

Noi: Pode me encontrar no insta como noi.pulsaopoetica ou no YouTube Celéstyan Pulsão Poética.

Estou sempre atenta a novos contatos e adoro novas parcerias, tanto para escrita quanto para projetos.

Agradeço imensamente a oportunidade, Jacilene, de falar um pouco do meu trabalho e desejo convocar outras mulheres para reverberarem suas vozes. Nós precisamos ouvi-las. Venham!!

 

Jacilene: Agradecemos a sua participação na revista Poesias & Cartas e até a próxima. @poesiasecartas4

Jacilene Arruda é responsável pela coluna A Voz para Elas na Revista Poesias & Cartas. + 55 31 99531-5732, instagram @evolucaoeconhecimento

 

 

 

Ouça o album TerraKota no spotify segue abaixo o link:

https://open.spotify.com/album/4IoTBY6SBnC3oiXR6nc8mC?si=qkejU2tKSfeGAYW-gLV1Bw

https://www.instagram.com/patridad
https://www.instagram.com/carolaaflora

https://www.instagram.com/pedra_branca

4 thoughts on “A Voz Para Elas

  1. Belíssimo trabalho; enriquecedor. Desperta não somente o desejo da leitura, mas também vontade de escrever.

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