A Voz Para Elas, por Jacilene Arruda

Entrevista com Alfredo Rabelo, Juliano D’Angelo e Yan Ribeiro Ballesteros, fundadores do Instituto Casa da Palavra

CRÉDITOS DE IMAGEM: INSTITUTO CASA DA PALAVRA, 2024.

Jacilene: Boa noite! Tudo bem?

Casa da Palavra: Olá, boa noite! Estamos bem, e você?

Jacilene: Estou ótima e ansiosa por conhecer o trabalho de vocês! É uma honra estarmos recebendo vocês em nossa revista. Esse mês trabalhando a temática do Agosto Lilás.

Casa da Palavra: agradecemos a oportunidade do espaço para falarmos dessa temática tão importante, necessária e até urgente.

Jacilene: Em três palavras, como vocês se definiriam?

Casa da Palavra: Reflexão, Pesquisa e Intervenção.

Jacilene: O que essas três palavras representam para vocês?

Casa da Palavra: essas palavras representam um movimento que temos feito desde antes da criação da Casa. O trabalho de pesquisa e intervenção com masculinidades demanda um olhar para si, uma investigação pessoal que nos permite ocupar e ficar por um tempo nesse espaço de ‘discordâncias frutíferas’, de interrogação e, e com o tempo, uma reconciliação – que já parte do pressuposto de que não há uma predeterminação exclusivamente biológica que se possa dizer sobre o masculino. A busca por respostas do que seja “ser homem” faz parte desse processo criativo singular, perpassado pela cultura, e onde nós da Casa estamos inseridos.

Jacilene: Como nasceu o Instituto Casa da Palavra?

CRÉDITOS DE IMAGEM: INSTITUTO CASA DA PALAVRA, 2024.

Casa da Palavra: O instituto nasce a partir de projetos individuais que passam a ser compartilhados entre nós, Yan, Juliano e Alfredo. A partir de uma costura feita pelo Juliano, nós três, já inseridos nas políticas de prevenção e enfrentamento à violência contra as mulheres, de lugares diferentes da advocacia para as famílias, da criação de grupos reflexivos de adesão espontânea, nos espaços da educação básica, da saúde mental nos unimos em processos formativos continuados com um mesmo propósito.

Jacilene: Qual o propósito do Instituto?

Casa da Palavra: O Instituto Casa da Palavra tem por direção um trabalho interseccional, transversal, cidadão, antirracista e antissexista voltado à sociedade, investigando o exercício de suas masculinidades e suas consequências no laço social. Fazemos parte de um movimento contracíclico, entre tantos outros importantes, de convocar os homens para o debate sobre violência de gênero, pensando na criação em portas abertas de espaços de diálogo e conexões.
Para isso, pensamos espaços de troca em rede que nos possibilitem refletir sobre como o modo de lidar conosco, com o outro e com a sociedade pode transformar nossos trabalhos, rotina e relacionamentos. Por meio de formações, capacitações, palestras, mediações, atendimentos clínicos, escutas individuais e coletivas de caráter reflexivo, temos a missão de promover mudanças tanto objetivas quanto subjetivas de pensamentos e comportamentos machistas, patriarcais e silenciadores, causadores de sofrimento físico e mental em toda a sociedade.

CRÉDITOS DE IMAGEM: INSTITUTO CASA DA PALAVRA, 2024.
CRÉDITOS DE IMAGEM: INSTITUTO CASA DA PALAVRA, 2024.

Jacilene: Vocês desenvolvem outros trabalhos além desse? Qual (is)?

Casa da Palavra: Sim, o Yan é psicanalista e docente no curso de Direito na AlfaUnipac, o Alfredo é advogado e professor e o Juliano é assessor da Subsecretaria Estadual de Política dos Direitos da mulher e percussionista.

Jacilene: Quais foram ou são os maiores desafios frente ao enfrentamento da violência contra a mulher em termos de conscientização do público masculino?

Casa da Palavra: Acreditamos que o maior desafio seja o de mobilizar os homens nesse debate. De fazer com o que eles percebam que a discussão sobre a construção das masculinidades também os afeta quando observamos as estatísticas de mortes violentas, dos índices de sofrimento físico e mental e também dos índices de violência contra as mulheres.

CRÉDITOS DE IMAGEM: INSTITUTO CASA DA PALAVRA, 2024.

 

 

 

 

 

 

 

 

CRÉDITOS DE IMAGEM: INSTITUTO CASA DA PALAVRA, 2024.
CRÉDITOS DE IMAGEM: INSTITUTO CASA DA PALAVRA, 2024.

 

 

Jacilene: Vocês conseguem enxergar um mundo mais igualitário em termos de relação de gênero? Como alcançar esse objetivo?

CRÉDITOS DE IMAGEM: INSTITUTO CASA DA PALAVRA, 2024.
CRÉDITOS DE IMAGEM: INSTITUTO CASA DA PALAVRA, 2024.

Casa da Palavra: Sim! Nosso trabalho se baseia nessa crença. Não acreditamos na desconstrução total do machismo em um homem, afinal não existe um indivíduo que seja à parte da sua cultura. Mas acreditamos em desconstruções e reconstruções contínuas e paulatinas, onde aprendemos a nos conectar melhor com nossos sentimentos e necessidades, a cuidar de si e de outras pessoas, a entender o lugar de objetificação e desumanização em que colocamos o feminino. E sobretudo aprendemos a criar um espaço interno maior, para lidar com nossos medos, inseguranças e ansiedades, com um repertório maior para encarar o desconforto necessário para encarar nossos vacilos e crescer enquanto pessoa.

Jacilene: Qual a importância da lei Maria da Penha?

Casa da Palavra: A Lei Maria da Penha é um instrumento legal necessário e eficiente para o enfrentamento à violência contra as mulheres. Está entre as 3 leis mais modernas para o enfrentamento das violências. Mas, infelizmente, o seu conteúdo e o entendimento sobre sua importância ainda não chegaram aos homens de forma efetiva, os seus principais infratores. Sua importância é imensa por tratar a violência doméstica como violação de direitos humanos e tipificar os 5 tipos de violência doméstica, o que por si já expande o debate sobre a necessidade da visibilização de violências até então naturalizadas e até romantizadas. Mas precisamos ir além, com mais legislação sobre a importância da responsabilização dos homens, e do caráter restaurativo de alguns tipos de conflitos.

CRÉDITOS DE IMAGEM: INSTITUTO CASA DA PALAVRA, 2024.

Jacilene: Qual mensagem vocês deixariam para os homens que estão lendo essa matéria?

Casa da Palavra: Que assim como a feminilidade, a masculinidade também implica um tornar-se, um movimento que prescinde a investigação sobre de qual lugar estamos falando e quem somos. Igualmente, esse tornar-se homem não se dá por uma simples tomada de consciência e sim mediante tensões, mal-estar e luta política. Aproximar-se dessa pauta implica estar ciente de que é um ambiente no qual não podemos falar em nome das mulheres, muito menos ocupar seus espaços de enunciação. Nos livrarmos da ilusão de simetria entre as relações de gênero não impede que possamos acolher o sofrimento dos homens, muito menos criar condições para que a responsabilização ocorra.

Jacilene: Frente aos diversos tipos de violência, qual seria o aconselhamento de vocês para as mulheres?

Casa da Palavra: Em primeiro lugar gostaríamos de agradecer e reconhecer a importância do movimento das mulheres para o nosso trabalho de pesquisas e intervenções. A abertura desses espaços só se deu mediante a luta política e apoio das redes de enfrentamento, por isso, nosso aconselhamento é para que caminhemos em conjunto e que conheçam a rede de enfrentamento à violência do seu município. Denunciem toda e qualquer forma de violência e estejam cientes de que buscamos cada vez mais sermos aliados dessa pauta.

Jacilene: Como podemos conhecer um pouco mais sobre o (s) seu (s) trabalho (s)?

Casa da Palavra: O principal meio de divulgação de nosso trabalho tem sido por meio da página do Instagram, @institutocasadapalavra, onde temos compartilhado sobre o nosso trabalho.

Jacilene: De que forma instituições, governo, sociedade, escolas, empresas e demais grupos sociais conseguem contatar você (s) para palestras, cursos, entrevistas?

Casa da Palavra:
Nós poderemos ser contatados através dos seguintes canais:
E-mail:
contato@institutocasadapalavra.com;
Instagram: @institutocasadapalavra
Telefone/Whatsapp: (31) 99263-3925

Jacilene: Agradecemos a sua participação na revista Poesias & Cartas e até a próxima. @poesiasecartas4

Jacilene Arruda é responsável pela coluna A Voz para Elas na Revista Poesias & Cartas. + 55 31 99531-5732, instagram @evolucaoeconhecimento

Programa Futuras Cientistas, inscrições até 30 de agosto. link abaixo

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSd7fl8SOM4j7IH_YYFlEMSbjbH5AIISNxs-0gdauYvn8W_ySQ/viewform?pli=1

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