A Voz Que Nunca Se Cala- Por Garcia Emmanuel

QUERO SER PRETO. NESTE E EM QUANTAS VIDAS VIEREM!

Gostaria eu, com todo o meu coração, de começar este texto esboçando a felicidade que sinto em ser uma pessoa preta VIVA no Brasil em 20 de novembro de 2024! Orgulho sinto! Contudo, apesar de tudo, digo:

As correntes ainda persistem! E arranham os meus pés!

Tenho que entrar em estabelecimentos com as mãos sempre à mostra, tenho ainda que usar a cota, tenho que andar um pouco mais distante daquela senhora que vem pela calçada – de preferência, não olhar para ela -, tenho que me identificar três vezes quando vou ao banco receber um simples cartão. Tenho também que, anfitrião num evento, logo dizer que não sou um dos garçons.

Te digo outra vez: Quero ser preto em quantas vidas eu vier! Porque o problema não é ser ou estar em alguma dessas posições dignas! O problema é não ser reconhecido como alguém capaz, plenamente capaz de ascender, de crescer, de assumir lugares de poder!

A cor da minha pele deixou de ser – também – uma característica do meu corpo físico e passou a ser um ponto de referência para alguns.

“Aquele negro” ou “aquela preta ali, ó”. Ainda: “se não cagar na estrada, faz na saída”. Aos mais incautos e insensatos, digo:

Vocês não têm noção do que é ser preto! E não têm a dimensão do orgulho que sentimos em levar na nossa pele a cor dos Reis e Rainhas africanas! De um povo forte que lutou para continuar vivo enquanto atravessava os mares para, sob o chicote e o açoite, levantar a fortuna de brancos exploradores!

Quem nunca se chocou vendo aqueles filmes marcantes que mostram os navios negreiros? Te digo que ali é a ponta do iceberg.

Porém, os anos se passaram e aqui estamos eu e você conversando sobre a capacidade que uma pessoa negra tem em comparação a um outro ser humano de cor diferente.

Mas parece que o tempo não passou, não é mesmo? No dia em que fui acusado de roubo, eu, Emanuel, no ano de 2005. Naquele dia, fiquei calado. No dia em que a senhora escondeu a bolsa quando me viu vindo pela mesma calçada, eu também fiquei calado. Naquela manhã, num dia de folga, em que o gerente do banco Bradesco não aceitou minha carteira de estudante como documento de identificação, eu também fiquei em silêncio.

Mas HOJE não! Hoje vocês, os racistas, não me calarão! É processo nas costas, cadeia e um bocado de verdades jogadas na sua cara sem vida!

Aprendi sobre quem eu sou e tenho orgulho de ser assim!

Eu sou Emanuel Paulino da Silva, 38 anos de idade, e digo: SOU PRETO SIM! E este lugar que lutei para estar é meu! Tome seu preconceito e foda-se!

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